Essa medalha de ouro do futebol masculino em Londres 2012 insiste em pular, descaradamente, no colo no Brasil (acima, comemorando a vitória por 3 a 0 contra a Coréia do Sul, na semifinal).
Se ela, a medalha, falasse, é como se estivesse dizendo: "eu não vou para lugar nenhum, não vou, não vou, não vou, só para o Brasil".
Tudo, rigorosamente tudo, parece conspirar para que o Brasil leve o ouro pela primeira vez nos gramados.
Uma sequência tão grande de condições favoráveis que às vezes parece combinação. Se não dos homens, no mínimo do destino.
Primeiro, a lista de classificados para os Jogos, sem Alemanha, Itália, França e outras seleções perigosas, e apenas com Espanha e Uruguai como adversários de tradição e títulos mundiais e olímpicos.
Depois, pela decisão brasileira de levar seu técnico principal, Mano Menezes, e os melhores jogadores disponíveis mesmo para uma seleção número 1, o elenco praticamente completo para a Copa 2014 (esse grupo pode eventualmente receber Ramirez, Daniel Alves na lateral direita e mais um ou outro, mas, convenhamos, o futebol geral não será muito diferente do que se vê agora). A fome de quebrar o tabu da medalha de ouro era grande, feroz.
Depois, em mais uma molezinha, provocada pela decisão da Espanha de levar não a seleção sub-23, mas a sub-20, reforçada por três rapazes com até 23 anos em fase de preparação para a Copa de 2014, no Brasil.
Como se não bastasse, o Uruguai, que poderia dar algum trabalho com uma seleção aparentemente forte, reforçada por três sobre-23 de respeito (os "europeus" Suarez e Cavani e o volante Arevalo) e o comando do treinador "de cima" Oscar Tabarez, acabou por entregar o ouro da segunda vaga do Grupo A para a forte fisicamente mas apenas esforçada em termos técnicos Senegal.
Ainda depois, a dona da casa Grã-Bretanha, única teoricamente com força para abalar o Brasil, até pelo fato de jogar em casa, confessou logo nas quartas de final, nos penaltis, para a Coréia do Sul.
É a medalha pulando - o tempo todo - no colo do Brasil.
E o Brasil, mesmo assim, fazendo charminho, insistindo em rejeitar os carinhos da dona do lugar mais alto do pódio.
Foi assim, por exemplo, na vitória tirada das vísceras contra a toda-poderosa Honduras, com a ajuda do árbitro, depois de ficar atrás no placar por duas vezes.
E também na semifinal, contra a igualmente toda-poderosa Coréia do Sul, quando houve um pênalti escandaloso contra o Brasil não marcado pelo juizão no momento em que a seleção vencia por 1 a 0.
E assim, depois de superar as "potências" Egito, Bielorrúsia, Nova Zelândia, Honduras e Coréia do Sul, a Seleção Brasileira chega à final da medalha contra a apenas "chatinha" seleção do México.
Isso mesmo: uma trajetória sem passar por nenhum vencedor de Copa do Mundo.
Isso mesmo: uma trajetória sem passar por nenhuma seleção protagonista do futebol nos últimos 50 anos.
Isso mesmo: uma trajetória sem encarar ao menos um finalista ou mesmo medalhista olímpico.
A isso tudo devemos somar, claro, as condições milionárias de vida, preparação e treinamento dos boleiros, muito diferentes do que o do restante das delegações e atletas de outras modalidades.
Por todas essas coisas, só há uma saída honrosa para essa seleção: vencer - e vencer bem - o México na final e voltar para casa com o ouro.
Quando se fala em resultado, teoricamente ninguém é obrigado a nada em esporte.
Mas desculpem-me: neste caso, o ouro é obrigação do Brasil.
O-bri-ga-ção.
E estamos combinadíssimos assim.
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